José Castro Caldas

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    Público

    Viagem ao Egipto
    07.06.17 —-» 21.06.17

    Cada sítio tem a sua especificidade, cada local o encanto próprio, mas aqui (lá) é ter a oportunidade de caminhar em sítios que foram base de uma das mais fascinantes civilizações de sempre. Um legado absolutamente incrível, Majestoso e todos os superlativos que se possam/queiram juntar… Numa Arquitectura que contemplamos sempre de baixo lá para cima, numa (imposta) humildade perante a monumentalidade construída, desumana – aquilo só se (pod)ia construir para adorar Deuses – Templos e estruturas numa escala e com massas de construção que nunca mais se vão repetir.. Que, depois, perto (porque já as vemos sempre de uma longa distância de aproximação) é delicadamente ornamentada, numa cuidada ocupação das faces para inscrições, relevos. Desde grandes figuras (normalmente deuses e faraós) até a hieróglifos de minimos cms, tudo numa gestão perfeita do espaço, nunca há aquela ultima linha dos nossos cadernos que encavalitamos para caber a ultima frase ainda na mesma página. O que foi inscrito ali, foi meticulosamente preparado, superiormente executado. Numa resistência ao desgaste formidável. Tudo isto pode-se visitar num registo que eu pessoalmente adoro, com poucas “infraestruturas turísticas”, sem passadiços de desenho contemporâneo em aço e madeira para caminhar sobre, sinaléticas a cada metro do que é que podemos e não podemos fazer, acrílicos de protecção, etc… Pouco, muitas vezes quase nada… Caminhamos livremente. Estão lá como o Tempo as deixou.

    Até esta passagem pelo Egipto tinha arrumado na minha cabeça uma ruína como um estado em que o Tempo a tinha deixado. Nessa definição de “Tempo” considerava só a passagem do tempo secular de desgaste por antiguidade, de intempéries climáticas etc. Mas percebi que uma ruína é também uma consequência das diferentes ocupações por que passou. Por exemplo, desde a queda do império Egipcio, foram várias as civilizações que por ali passaram, que interferiram com as estruturas, a maior parte das vezes de forma selvática, de saque aos tesouros dos túmulos, desbaste das figuras por ofensas a religiões, materiais retirados e reutilizados noutras estruturas, adaptação em novas estruturas com acrescento de diferentes métodos de construção, saques de “trofeus” para exibição nos museus pelo Mundo fora etc.. – E, apesar de tudo isso (!!) é ainda avassalador o património que nos chega –

    É das coisas mais curiosas que levo desta viagem: A de perceber e elevar a resiliência do património que nos chega. De procurar nelas o registo que conserva das diferentes ocupações, dos diferentes tempos. Em oposição a isto, vários templos estão a ser reconstruídos, num exercício modo ajuste de contas com o passado, decide-se “corrigir” e refazer exactamente como, alguém, acha que devia ter ficado. E o resultado são umas estruturas que parecem uns cenários de filmes de época, com uns bocados colados de pré-existências.. Tudo com um ar muita lambido e polidinho. Todos impecavelmente acabados mas muito aborrecidos..
    Prefiro o património que nos chega através de um processo “natural” de preservação, que me mostra a interferência que teve e as marcas/desgaste/cicatrizes de cada fase da (sua) História.



    Data: 2018